Quando o Sol despontou já nos estávamos a equipar, lançando-nos de novo ao Caminho.
Logo no arranque percebi que muito dificilmente iria chegar em condições ao almoço. As dores tornaram-se mais fortes a partir da 1ª hora de prova (e eu calculei que iria demorar 2h, mas acabei por fazer 2h30m) e faziam-se sentir ainda mais nas descidas. Onde se sentiam menos eram nas subidas. Foi um período que me obrigou a ser ainda mais determinado, pois mentalmente era frustrante. Os meus companheiros aproveitavam as descidas para esforçar menos os músculos e as minhas articulações obrigavam-me a caminhar. Nas subidas eles poupavam-se e eu tentava não ficar muito para trás. Aiaiai! Algo estava distorcido…
Percebi que se amparasse a articulação do joelho a dor era bem menor mas não tinha nada para fazer ligadura até que me lembrei da minha T-shirt de manga comprida e agucei o engenho: dei um nó em cada manga para suster cada joelho e lá fui eu.
As expressões de quem me viu chegar eram de incredulidade: nunca tinham visto semelhante aparato que tinha uma forma completamente bizarra (existem fotosJ).
Ainda pensei em desistir mas a minha Voz Interior (ou Santiago) fez-me sentir que tinha de continuar, tinha de vencer o desafio físico e mental.
A Emília (muito mais do que uma massagista, uma grande e integral terapeuta) ainda me tentou demover mas viu em mim a determinação de chegar a Santiago, mas não tinha ligaduras (nem eu, nem a organização). Quero agradecer ao Vítor Mota ter-me dado uma ligadura. Foi este generoso gesto o grande responsável pela conclusão desta epopeia.
Depois dos 18 quilómetros da manhã lançámo-nos à estrada mais uma vez, sendo o pelotão controlado pelo Moutinho até à saída das ruas da vila.
Os transeuntes apesar de já estarem habituados a peregrinos ficaram estupefactos ao verem passar semelhante grupo: mais de 40 pessoas a correr para Santiago e um cão.
Este cão foi logo baptizado de Santiago (o cão tinha uma Paz muito especial) e acompanhou as três etapas, percorrendo mais de 70 quilómetros sem exigências ou clamores. Agradavelmente corria ele ao lado dos atletas! Algo extraordinário a meu ver.
Mal o pelotão pode ter o seu ritmo próprio, os diferentes ritmos fizeram-se sentir ficando eu, completamente para trás. Não me preocupei, sabia que tinha de gerir muito bem as minhas capacidades para triunfar sobre as minhas limitações.
Não estava muito calor, mas pontualmente por entre trilhos cheios de água e de verde, vinha uma brisa escaldante. O meu grande companheiro de percurso (António Pousada) ajudou-me a tornar os quilómetros menos penosos.Se bem que, devido à minha inexplicável capacidade de regeneração, no fim da etapa fisicamente estava bem indo as maleitas afrouxando a sua manifestação. Sem dores e ainda com alguma energia foi como cheguei ao jardim onde estava a meta desta etapa.
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