07/05/09

Caminhos de Santiago – II

Preparado todo o material a levar (é uma prova em auto-subsistência. Cada atleta/peregrino transporta consigo o que vai precisar. Seja líquidos, isotónicos, gel energético, barras energéticas, outros suplementos e diversos gadgets. Os preferidos são o telemóvel (cada vez mais presente… e eu usei-o…) e a máquina fotográfica. Lá fomos abençoados pelo Confrade Moutinho (o impulsionador da prova) e arrancámos de Vila Praia de Âncora como um grupo de Peregrinos mas à século XXI: com pressa :)
O ambiente que se respira nestas provas é diferente. Existe uma competição saudável. Todos querem dar o melhor mas existe uma atitude de companheirismo e de entreajuda. Dar o seu melhor, o máximo, algumas vezes usando o “vencer o outro” como motivação mas não como fim. O vencedor deste ano, Eduardo Santos, é o perfeito exemplo: quer ficar em primeiro mas à custa do seu empenho tanto nas provas, como fora delas.
Logo nos primeiros metros se entendeu as diferentes capacidades e intenções. Os diferentes grupos formaram-se consoante o andamento imposto mas acho que no interior de todos o sentir era o mesmo: peregrinar até Santiago.
Sentindo logo nos primeiros quilómetros a minha falta de preparação acompanhei o grupo da retaguarda. Este grupo permeado de habitueés bem-dispostos foi crescendo de etapa a etapa (porque é que será?).
A magnífica paisagem fez-nos sentir todos mais leves a cada quilómetro. Depois de algumas setas perdidas (o percurso em Portugal é indicado por setas amarelas e em Espanha por vieiras (um tipo de concha) já se aproximava o Quartel do Bombeiros que seria o nosso oásis no intervalo das etapas.
Os Comezainas voltaram a brindar-nos com as suas apetitosas refeições e com a sua simpatia. Eu agradeço o facto de sempre terem algo vegetariano para mim.
Depois do intervalo voltámos à peregrinação. Os 40 quilómetros da etapa da manhã mostraram-me que Santiago ainda ficava muuuuito longe para mim. Mesmo com o incansável apoio da Margarida, da organização e dos meus companheiros iria ser muito complicado.
Todos estavam apreensivos com o calor que se manifestava mais intenso pois a recta da Zona Industrial costuma ser um deserto. O calor que se fazia sentir aliado ao facto de termos saído de uma zona em o caminho se faz por entre as copas das árvores e passarmos para uma zona onde o alcatrão impera (e o calor que o alcatrão liberta!!!), faz desta zona um dos pontos de maior transcendência do percurso.
Santiago estava (e sempre esteve) connosco e para nós: soprava uma suave brisa que nos refrescava o rosto e a alma fazendo parecer a vila de Redondela mais próxima. Retomando à zona verde com algumas incursões na estrada principal, entrámos no centro e percorremos a distância que nos separava da Escola onde pernoitaríamos em comunidade.
Alegro-me sempre que a meta se aproxima. É como uma sensação de missão cumprida. Mal ou bem cumprida, quem sou eu para julgar? Esforcei-me e dei o meu melhor. Para mim é o mais importante.
Cheguei já bastante debilitado mas decidido a cumprir pela segunda vez esta prova mística.
O banho, o alimento e a companhia tornaram as últimas horas uma recordação agradável.
Tempo só para comentar o que aconteceu e o que estava para vir antes do repouso merecido.

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