Faltando somente(!) 42 quilómetros para entrar na praça da Catedral todos os atletas/peregrinos se reuniram uma última vez ao raiar do Sol e saíram para a derradeira etapa que os separava da meta.
O Eduardo já com uma vantagem confortável sobre o 2º classificado arranca num ritmo impressionante (e pelo que sei manteve-o até ao final! Ah! Granda Eduardo!) enquanto eu, de joelhos ligados e de estômago às voltas mal conseguia caminhar, ficando logo para trás.
A má disposição, acho que teve a ver com o facto de já não estar habituado a tanta coisa energética como suplemento.
A questão das ligaduras foi a repetição da etapa anterior: firmes até ao final! (Mais uma vez, um Grande Bem haja à Emília). Tive de transcender a mente e deixar de pensar que ia correr uma maratona com a zona dos joelhos bastante dorida e frágil, e que para isso, em vez de descansar, ia para a estrada rumo a Santiago.
O mau estar geral imperou durante a 1ª hora, altura em que falei via telemóvel (!) com a Margarida que, mais uma vez, me motivou ajudando a manter firme a determinação de vencer os quilómetros finais.
À 4ª hora de prova (demorei 6h) pensava que ainda seguia muito atrasado, e qual não é o meu espanto ao ver o grupo das Lebres do Sado vindos de um trilho mais à direita! O cansaço vencia e nem consegui racionar. Depois é que percebi que me tinha enganado, à semelhança de outros.
Ainda esboço uma tentativa de perseguição mas em vão. A Força já não me acompanhava. Enquanto prossigo a caminhar, tento motivar-me a voltar a correr. Os meus passos já são de corrida, e alegro-me ainda mais quando vejo a poucos metros à minha frente o António. Tento alcançá-lo, mas os metros que nos separam esticam. Pouco a pouco junto-me a ele, mas nisto volta a mesma questão: não consigo correr nas descidas, nos quais ele aproveita a ajuda da gravidade, e lá vai ele. Nas rectas e nas subidas esforço-me por não ficar para trás. Entrar em Santiago lado a lado deu-nos mais motivação para darmos tudo. Sentindo que já lá estávamos, o entusiasmo cresceu. Entregámo-nos a Santiago e foi ele que nos levou numa nuvem tal era a sensação de leveza. Correndo por ali acima e percorrendo as ruas até à Praça, revivi sensações estonteantes. Não senti aqueles metros finais, voava. Transbordava Alegria, Felicidade, Gratidão, a sensação de ter cumprindo o que estava destinado. Rever companheiros na meta foi demais.
Depois de ter agradecido TODO o apoio a TODOS, dirigi-me para o merecido banho e repasto. Sentia-me ainda a flutuar e um pouco incrédulo.
Sinceramente, sei que não cheguei por mim próprio. O apoio de todos e do Universo fizeram tudo. Eu apenas manifestei. Fui mero instrumento.
Expiei toda a minha arrogância de ter ido para uma prova destas sem treinar. Mas mesmo assim, concluí-a. Pela 2ª vez, fui peregrino de Santiago e pela sua Graça, cheguei.
Emocionei-me (eu e quase todos) na cerimónia de entrega dos diplomas, pois o Moutinho transmite-nos todo o seu calor e o de Santiago. Grande Confrade!
O Eduardo foi estonteante: 12h43m53s!!! O 2º classificado demorou mais uma hora! E eu mais 8h30m! Uau!A pergunta que ficou: Quando é que se realiza a nova edição? Queremos mais!
Caro Martins. Gostei imenso de te acompanhar alguns kms... Na cauda do pelotão as coisas são mais apreciadas e é onde a solidariedade é mais evidente. É lá que nos sentimos um porto de abrigo, onde acolhemos quem vai em dificuldades. Como viste veio lá ter quem no primeiro dia exagerou. Apreciei a tua força de vontade e para ti o meu aplauso. Na última etapa estava convencido de que estavas para a frente pois nunca te vi. Teria esperado se soubesse que estavas para trás, como fiz com o amigo espanhol que apenas deixamos já perto de Santiago. Fiquei surpreendido quando te vi chegar com ele. Desculpa pá...
ResponderEliminarAbraço
Ricardo Bastos